sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Dos Olhares em que insisto - Cado Selbach

DOS OLHARES EM QUE INSISTO

Ando pela rua provocando olhares
Até que se desviem do meu - tão insistente

Mulheres, homens, velhos... crianças.. ateus, crentes
Olhares sãos e dementes... desejosos e indiferentes
Irritados, complacentes... cegos talvez pra sempre

E por certa vaidade ou defesa disfarçada
Não baixo meus olhos antes de que o outro se recolha
Preciso espelhar-me sempre nos olhos que se aproximam
Para assim reconhecer-me e ainda saber-me pleno

... e desconfio de um eu
Provocador e sedento
Por rostos que não ostentem
O medo de nossos dias.

Medo até de embaraçar-me num olhar desavisado
Que revele alma tristonha de algum formigueiro urbano
De claustrofóbica densidade... e de tantos homens tristes
Exilados de si mesmo por frustrações somadas
e sonhos subtraídos dos cenários do passado

Olho teus olhos agora, não pra querer desvendá-los
Mas por essa desconfiança que há muito me acompanha
De que sorrisos gratuitos que já não se usam hoje
Possam ser ressuscitados por olhares desnudantes

Mas não desisto de usar os meus olhos como arma
Não de sedução barata e piscadelas ensaiadas
Mas como dossiês da verdade... de meu amor pelos homens

E mulheres já cansadas de pensarem que precisam
Da sedução embalada em frascos e adereços
E só buscam muitas vezes... ter suas almas desveladas

E seus corpos
Bem tratados por homens atrapalhados
Quase sempre ocupados
Em cortar cordão antigo... de mães muitas vezes mortas
Mas ditando atos e formas... restrições e saudades

dessas paralisadoras... das quais nos
escondemos.

Cado Selbach

3 comentários:

Sil Tondato disse...

Forte texto... verdades bem ditas em dores benditas que todo aquele que enxerga com a alma consegue ver e sentir...

Maria Edna Bernardino Pinto disse...

Um olhar seduz, deduz, traduz, induz... ações e reações, e não nos confunde jamais!!

Maria Edna Bernardino Pinto disse...

Lindo Blog, parabéns!!