terça-feira, 16 de agosto de 2011

Da eloquência do silêncio - Cado Selbach

Da eloquência do silêncio

Cerco-me de silêncio para ouvir-me

E meus pensamentos

- sempre abarrotados -

Distraem-se ante os cantos dos pássaros de chuva

E então povoo a casa de outro canto - ensolarado
Pra que as sombras da tarde
Não se fundam as minhas próprias

E assim convoco o corpo que acorda sempre tarde
A espiar a rua, das venezianas azuis
E a chuva faz um lago nos brinquedos da pracinha
Na entediada tarde de shoppings e vídeo games

A casa toda ainda dorme... enquanto escrevo em silêncio
Bem na hora dos fantasmas soprarem seus versos soltos
Que transformo em poesia pra dizer-me de meus temas
Recorrentes... insidiosos, serpentiando o dia a dia.

Mas já deles não me ocupo - deixo que de mim se ocupem
Pois aprendi com relógios que de tão velhos pararam
A esperar paciencioso que mais tarde se anuncie
A hora das badaladas que expulsam letargias

...

Sempre acordo bem mais cedo do que a hora em que acordo
E espero algumas horas pra existir assim - de fato
Logo que retorno, tonto, do "palácio de meus sonhos"
É autômato que escrevo... poemas por insistência

Já que em dias em que a chuva, talvez me faça recluso
De pensamentos prolixos e lógicas obtusas
Vou logo torná-los versos antes que a chuva passe
Ou que passe esse estado de dormitar acordado

Pra que o poema carregue tonalidades oníricas
Matéria prima sagrada do que foi e está por vir
E nasça purpurinado de emoção explandecida
Já que anda insistindo em temas de despedida

Meu poema sempre nasce pra receber o teu colo
Que ganho quando me dizes que dele te apropriaste
E que os sentidos plurais, cambaleando entre as palavras
Também te fazem sentido... se consegui, por esforço
Equalizar os meus ditos, com sentimentos urbanos
Que quase posso afirmar, que comigo compartilhas.

E se deles tanto entendes, como se em mim estivesses
Convoco que tuas palavras também vertam poesias
Dessas tão descamizadas e desacademizadas
Feitas da matéria prima de afeto explandecido.

E já creio - há muito tempo - que o obscuro da vida
Ganha matizes solares sempre que nasce um poema
Mesmo quando nasce tonto e bem cansado da lida
Das guerras de todo dia... e dos amores de sempre

Em memórias a granel, que feito gotas de chuva
Camuflam choro de agora, o doce choro da espera

Do que enfim sempre queremos
Mesmo que nunca saibamos...

Ou esquecemos de propósito

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