quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Poema preguiçoso - Cado Selbach


POEMA PREGUIÇOSO

Hoje meu poema é feito de preguiça
Da cuidadosa preguiça de tecê-los
Por saber-lhes delatores de segredos
Que desvelas desfiando minhas palavras

E pra compor esse poema arrevesado

- Por saber-se incapaz de ser poema
ante olhos e ouvidos exigentes -

Deito-lhe no berço nada explêndido
De verbos arrastados e ambíguos
E até prometo certas precauções
Pra não floreá-lo dos adjetivos
Com que 'tento lhes dizer do amor que tenho'
Que decido imortal... por não ser chama

E por preguiça poupo-me dos temas
Que povoam quase todas minhas páginas:
Despedidas, desafetos, desamores, desencontros...

e corro atrás de algum prefixo... que os des-enredem
Destecendo 'churumelas' glicozadas
Pra talvez fugir do palco das paixões...
Paradoxos de dor e encantamento

Dos quais - por preguiça - não lhes falarei agora

E é então que me angustia a greve de minhas palavras
unidas em assembléia pra discutirem seus gostos
Pra cobrirem as novas páginas... estas do hoje em diante

Todas elas... tão barrocas... rococós do pensamento.

Decididas a encontrarem uma falha em meu intento
Uma brecha iluminada com palavras escondidas:
Amor, paixão e desejo, encantamento e saudade

E sem me dar por vencido, na primeira tentativa
De açucararem meu texto, declaro neste contexto
Já de carona na rima... que falarei de protestos
Guerra e paz, orgulho e sina...

Inclusive a antiga sina de escrever poesias

De "amor, paixão e desejo, encantamento e saudades"

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