quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Da inquisição negada - Cado Selbach

DA INQUISIÇÃO NEGADA

Há uma caverna em meu peito!

De onde ecoam tambores
Que quase me ensurdecem
Feito orquestra de malditos

Descompassada e nervosa
Rouba o ar - já tão escasso
E me criva de perguntas
Frente as quais sempre calo

Há muito já desisti de entender-me nessas horas
Nas quais vislumbro a imagem de um pássaro angustiado
Enjaulado no meu peito a corroer-me as entranhas
Parecendo em alguns dias querer carta de alforria

São dias insustentáveis... de raiva e melancolia
Na ciranda alucinada de afetos em entropia
Em dança quase macabra de bruxas alucinadas
E um tanto desavisadas dos loucos inquisidores

E é nessas horas sem tempo que caminho pra fogueira
Talvez pra tornar-me cinza do que não fui e anseio
E libertar chamuscado o pássaro que me habita

E há muito anda calado, com ares de desconfiança
No tal macabro silêncio que precede algo sinistro

E os pensamentos revoltos qual cabelo solto ao vento
Jogam-me pra todo lado... flor de algodão à deriva
Pra que quem sabe enfim entenda a imperiosa potência
Dos semi-domesticados demônios de minha infância

São horas em que calar-se não resulta em bom silêncio
Mas num navegar contínuo sem bússola nem sentido
Ouvindo o quebrar das ondas no casco já desgastado
De minha nave dos loucos na qual passeio sozinho

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