CALLA-ME
Ouço o barulho da taça espalhando-se no chão da sala
E ao olhar meus pés descalços vejo o sangue generoso
E quase esqueço
- cansado -
que tua sala de hoje
Fica em bairro bem distante
De qualquer lugarque eu pise
A taça quebrada em golpe
Contra a porta da saída
Quebrou-se na tua ida
Pra um mundo em que não caibo
E o vermelho que me cobre
Já viscoso entre meus dedos
De mãos e pés desnudado
Jorra de meus pulsos frágeis!
E do coração selvagem
E é então que alucino
E uso a tinta hemoglobina
Pra desenhar na parede
O teu rosto estilhaçado
E mesmo o teto singelo
Faz-se capela sistína
Pra minha obra de arte
Que chamo... sem entusiasmo:
"Da destruição do amor"
E não sei porque "la mamma"
Aparece mesmo morta
Pra resgatar o meu corpo
Que já quase entra no embalo
Da dança deste abandono
"La mamma morta m'hanno
alla porta della stanza mia"
Acordo-me, então, de súbito
Do pesadelo macabro
Onde Callas faz a trilha
Pra minha dança suicída
E decido que no sábado
Não ouviremos ópera
E talvez nos ocupemos
Da idéia sempre adiada
De finalmente cobrir
A parede desbotada
Do vermelho já escolhido
E estocado a tantos anos!
Cado Selbach
Ouço o barulho da taça espalhando-se no chão da sala
E ao olhar meus pés descalços vejo o sangue generoso
E quase esqueço
- cansado -
que tua sala de hoje
Fica em bairro bem distante
De qualquer lugarque eu pise
A taça quebrada em golpe
Contra a porta da saída
Quebrou-se na tua ida
Pra um mundo em que não caibo
E o vermelho que me cobre
Já viscoso entre meus dedos
De mãos e pés desnudado
Jorra de meus pulsos frágeis!
E do coração selvagem
E é então que alucino
E uso a tinta hemoglobina
Pra desenhar na parede
O teu rosto estilhaçado
E mesmo o teto singelo
Faz-se capela sistína
Pra minha obra de arte
Que chamo... sem entusiasmo:
"Da destruição do amor"
E não sei porque "la mamma"
Aparece mesmo morta
Pra resgatar o meu corpo
Que já quase entra no embalo
Da dança deste abandono
"La mamma morta m'hanno
alla porta della stanza mia"
Acordo-me, então, de súbito
Do pesadelo macabro
Onde Callas faz a trilha
Pra minha dança suicída
E decido que no sábado
Não ouviremos ópera
E talvez nos ocupemos
Da idéia sempre adiada
De finalmente cobrir
A parede desbotada
Do vermelho já escolhido
E estocado a tantos anos!
Cado Selbach
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