quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Eu e as horas - Cado Selbach

"Todos os dias quando acordo
Não tenho mais o tempo que passou
Mas temos muito tempo
Temos todo o tempo do mundo..."
(Renato Russo)

Eu e as horas

Há dias em que as horas parecem correr mais do que nós. Em que nos sentimos paralisados diante dos ponteiros do relógio anunciando os diferentes períodos do dia. Sempre achei engraçado isso de sermos tão condicionados a obedecer a ceifa de Cronos. Nem sempre o corpo está pronto a acatar os mandatos que surgem a cada volta dos ponteiros, dizendo-nos para que serve cada hora. Determinando-nos o que temos de estar fazendo a cada instante para nos comportarmos como pessoas adaptadas ao universo particular a que pertencem.

Sou feito de muitos universos. E nem todos conhecem limites. E alguns que sabem que eles existem, porventura se rebelam - ou adoecem. A vida que nos habita nem sempre cabe na vida que nos determinam. Ou seremos nós que a determinamos? Serão sempre nossas as escolhas?

Vivemos continuamente ocupados da tarefa de não perder tempo. Mas o que será exatamente perdê-lo?

Uma hora vazia onde a mente passeia por diferentes paragens e simplesmente contempla a própria vida é uma hora perdida? Esta hora em que aproveito uma brecha de meu dia pra pensar sobre as questões que abordo aqui, será tempo perdido ou jogado fora? A hora em que o relógio nos arranca da cama sem nenhuma cerimônia pra que nos organizemos com as atribuições do "dia útil" é mais importante (ou digna, em termos morais) do que as vividas no ócio?

Será o tempo "um dos Deuses mais lindos", parafraseando Caetano Veloso em sua música "terra"? Somos senhores de nosso próprio tempo?

Há aqueles dentre nós que simplesmente seguem a ordem do dia... organizada e metodicamente. E há aqueles cujo tempo interno normalmente duela com o tempo cronológico; os que sentem que a vida é curta e que nos cabe imprimir a ela um ritmo orgânico, natural e espontâneo. Não poder resolver essa equação tem um efeito devastador sobre o homem, expropriando-o de sua própria essência e o robotizando na obediência à cinza das horas. Precisamos todos resolvê-la, portanto, pra nos tornarmos protagonistas de nossas próprias histórias. Só quando o tempo não nos aprisiona é que podemos criar e ouvir o ritmo que pulsa em nosso interior. Venho trabalhando nisto.


Enfim... não gosto de relógios. Gosto do tempo ditado pelo nosso próprio corpo e colorido pelas melhores intenções de nossa alma. O tempo enjaulado nos empobrece. O tempo liberto nos engrandece. Mas como não vivemos em um idílico sonho em que simplesmente nos podemos deixar conduzir pelo andar suave da vida, precisamos aprender a viver com alegria aquilo que temos de viver, como no conceito de livre arbítrio, para o criador da psicologia profunda, Carl Gustav Jung. Ao discutir este tema ele desdobra a máxima de que o verdadeiro livre arbítrio está na possibilidade de podermos escolher como viver aquilo que obrigatoriamente temos de viver.

O quão satisfatórios conseguimos ser neste intento, e o que viemos fazendo para gerenciar com competência este domínio de nossa vida é o tema deste texto, que subtraiu 20 minutos de meu dia.

Nesta hora não espero pra ver a resposta da vida e afirmo: nunca é perdido o tempo que usamos para buscarmos nos entender.


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