sábado, 20 de agosto de 2011

Aracne - Cado Selbach

ARACNE



Teço os versos do poema

Tal qual a aranha sua teia

Que orvalho nas madrugadas
De lágrimas e suores



Pra que assim que nasça o dia
Brilhe o sol nas gotas d'água
Sacudindo a letargia
De meu corpo espreguiçado

- Da preguiça de existir num mundo mal acabado -

E exagero adjetivos pra enfeitá-lo de sentidos
Por preferir os excessos que a magia do entredito
Verborrágicas palavras sobre o pouco que já entendo
E que às vezes - sobrepostas - traem minhas intenções
Deixando escapar segredos de um "eu-lírico" apressado

E com pressa de dizer-me, entorno verbos de um jarro
Em que guardo protegidas minhas palavras transparentes
Proferidas em voz alta... e alta voltagem de afetos
No circo de meus horrores e amores sempre por perto

E tropeço toda hora em sílabas fugidias
Que se enroscam a meus pés qual tentáculos oníricos
Prendendo-me a velhos temas de tristezas desdobradas
moto-contínuo de vida sustentada por paixões
Quase sempre imaginadas e encaixotadas no sótão
Abarrotado de almas aprisionadas - mas vivas

E se um dia desabar o teto sob meu corpo
Cobrindo o chão da sala de meus mortos sempre vivos
Enlouquecerei um tanto pra dar-lhe as mãos em ciranda
Em alucinada dança do concílio dos banidos

E abraçarei meus fantasmas em gesto de boas vindas
Remontando na memória seus rostos feito mosaicos
Pois todos que já habitaram a caverna de meu peito
São partes fragmentadas do meu eu tão sempre inteiro

Um comentário:

zoraide gesteira disse...

deleite puro...muito bom! já ganhei minha dose de poesia para hoje.